segunda-feira, 15 de março de 2010

Lapso

O cheiro do café ainda podia ser sentido em cada cômodo daquela casa que um dia abrigou muita alegria. A madeira rangente fazia de cada passo um ruído, e de cada ruído uma boa e velha lembrança. No fundo do baú os espelhos e pentes, brincos e broches, traziam memórias de uma época onde a beleza e a ingenuidade andavam lado a lado, do mais lindo vestido ao já não tão brilhante colar de pérolas.
Os lustres e candelabros empoeirados, já cobertos por mantos milimétricamente tecidos pela mais delicada aranha. A caixinha de música ainda tocava, sua bailarina agora lenta flutuava como uma borboleta prestes a ser tocada pelo frio vazio do fim da vida.
No grande salão raios de luz entravam por pequenas frestas das janelas há muito tempo fechadas e refletiam fantasmas que dançavam ao som daquela mesma vitrola, engasgada, até consigo ouvir todas aquelas vozes, as conversas inocentes de um tempo de damas e cavalheiros. As fotos e cartões postais eram registros de apenas alguns de muitos momentos vividos... aumentava aquela saudade que me consumia, a máquina de escrever que a anos não escrevia, destruída e intacta. Memórias congeladas no tempo.
Vou me despedir, fechar a porta, quem sabe um dia eu volte, quem sabe eu consiga escrever novamente antes que essa pouca tinta se acabe.

Filipe
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